Desde 2015, uma grande crise econômica no Brasil levou ao aumento da pobreza e à implementação de medidas de austeridade fiscal de longo prazo que reduzirão substancialmente os gastos com políticas públicas nos próximos 20 anos. A redução de programas de transferência de renda e de APS pode resultar em um número substancial de mortes infantis evitáveis e hospitalizações no Brasil.
É o que conclui o estudo recém publicado por Davide Rasella, professor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e outros cinco pesquisadores, na PLOS Medicine. A partir de uma coorte com os 5507 municípios do país, o estudo prevê os efeitos da redução do Bolsa Família e da Estratégia Saúde da Família entre 2017 e 2030 em indicadores específicos da saúde populacional.
Ao invés de um modelo tradicional compartimentado ou uma série histórica, os autores realizaram uma micro-simulação utilizando dados prévios de estudos de impacto entre 2000 e 2010 e simularam mudanças específicas com o cenário de crise econômica e as respostas políticas a ela até o ano de 2030. Com esta simulação de coorte, é possível investigar a correlação real entre variáveis e modelar parâmetros específicos dos municípios ao longo do tempo.
Os pesquisadores afirmam que os níveis de mortalidade infantil no Brasil seriam significativamente maiores sob um cenário de austeridade fiscal, em que há redução de políticas de diminuição da pobreza como o Bolsa Família e da cobertura da APS, especialmente para populações vulneráveis. Nesse cenário de cortes, haveria cerca de 20 mil mortes infantis (8,6%) e 124 mil hospitalizações por doenças evitáveis a mais no país até 2030. Em relação à APS, apontam que já há evidências sólidas que sua expansão diminui a mortalidade infantil ao aumentar o pré-natal e melhorar a cobertura vacinal e combate a desigualdade social, especialmente em municípios com índices sociais piores.
Este é o primeiro grande estudo este a avaliar o impacto das medidas de austeridade fiscal sobre a saúde durante uma crise econômica em curso em um país como o Brasil. Parte dos dados já haviam sido apresentados por Rasella em março deste ano no Seminário do Pré-Abrascão, organizado pela Rede de Pesquisas em APS. O italiano afirmou então que “justamente quando os recursos da economia deveriam produzir melhoras para justamente sair da crise, que se agravam os efeitos da austeridade”. Em um momento grave como o atual, o fortalecimento da APS é fundamental para impedir retrocessos ainda maiores na saúde e na vida da população.
Boa leitura!
O Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq acabam de lançar uma chamada pública que busca apoiar projetos de pesquisa que têm como foco a melhoria das condições de saúde da população brasileira.
Os projetos deverão ter como objetivo o desenvolvimento de pesquisas que colaborem com a geração de novas tecnologias em quatro principais áreas: diagnóstico e tratamento, fármacos e medicamentos; medicina regenerativa; e organização dos serviços de saúde, no que se refere ao acesso, acolhimento, assistência e gestão para o SUS.
A data limite para submissão das propostas é 13 de julho. Já a divulgação do resultado será realizada no dia 10 de setembro. Para outras informações, acesse o link do edital: http://cnpq.br/chamadas-publicas?
Saiba mais – http://cnpq.br/chamadas-publicas?p_p_id=resultadosportlet_WAR_resultadoscnpqportlet_INSTANCE_0ZaM&filtro=abertas&detalha=chamadaDivulgada&idDivulgacao=8062
A discrepância entre as necessidades de saúde e o treinamento de recursos humanos para a saúde é muito mais evidente nas áreas rurais. No Brasil, um país de dimensões continentais, essas diferenças se tornam mais desafiadoras. A diversidade das barreiras geográficas e administrativas de acesso torna os indicadores de saúde das populações rurais e remotas piores que os da população urbana. A medicina de família e comunidade pode abordar os determinantes sociais da saúde por meio da prestação de serviços humanos e desempenhar um papel importante no estado de saúde dos residentes rurais de baixa renda. Este ensaio é um apelo urgente para o debate sobre as necessidades das áreas rurais no Brasil e os modelos de projeção para o provimento de força de trabalho de saúde nesses cenários.
Autores: Magda Moura Almeidaa Mayara Flossb Leonardo Vieira Targac John Wynn-Jonesd Alan Bruce Chatere
Leia artigo – RBMFC – It is time for rural training in family medicine in Brazil
Entre 20 e 21 de março, ocorreu o Seminário Preparatório para o Abrascão 2018 na Fiocruz, Rio de Janeiro. Com o título “De Alma Ata à Estratégia Saúde da Família: 30 anos de APS no SUS – avanços, desafios e ameaças”, o evento teve ampla participação e qualificou o debate sobre o futuro e os caminhos para a APS e o SUS no país.
Organizado pela rede de Pesquisa em APS da ABRASCO, o seminário teve como contribuir para a formulação de uma agenda política estratégica para a APS no SUS. Como seu produto final, será elaborado um documento síntese que comporá o “Caderno sobre o SUS, direitos e democracia”, organizado pela ABRASCO.
A mesa de abertura teve a participação de Ronald Ferreira dos Santos, presidente do Conselho Nacional de Saúde; Rosana Aquino, professora da UFBA; Davide Rosella, professor convidado da UFBA e vinculado ao London School of Hygiene and Tropical Medicine e Luiz Facchini, professor da UFPEL e coordenador da Rede de Pesquisa em APS. O debate foi coordenado pela Profª Lígia Giovanella, da ENSP-Fiocruz e coordenadora da Rede de Pesquisas em APS.
Na abertura, Giovanella fez uma emocionante homenagem à Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada no mês de março. “Este ano comemoramos 30 anos do SUS criado pela constituição cidadã de 1988 que estabeleceu o direito universal à saúde em nosso país, e 40 anos da Declaração da Conferência internacional de cuidados primários de saúde realizada em 1978 em Alma Ata. Nesta data, e frente a uma onda conservadora que assola não somente o nosso país, vale a pena resgatar e atualizar os princípios fundamentais da APS: uma atenção essencial e base integrada a um sistema público de saúde de acesso universal com financiamento e prestação públicos, inseparável do desenvolvimento econômico e social para enfrentamento dos determinantes sociais e a promoção da saúde e que promova a participação social. Estes são também princípios constitutivos de nosso SUS que orientam nossas ações.”, afirmou a professora.
Durante o debate, foram expostos alguns dos porquês da APS apresentar mesmo tempo indicadores positivos, grandes fragilidades e disputas de interesses entre o setor público e privado no país.
Em sua apresentação, a professora Rosana Aquino expôs um conjunto de resultados positivos referentes aos 30 anos de experiências de APS no país. Dentre os efeitos positivos, destacou a queda em 13% da mortalidade infantil entre 1999 e 2004, enquanto o aumento de cobertura foi de 14 para 60% e a queda de internações por condições sensíveis à APS de 183,9 para 143,3 por 10 mil habitantes, entre 1999 e 2007. Trouxe à tona também evidências de interação dos efeitos da ESF e do Programa Bolsa Família na melhoria do estado de saúde da população do país.
Para Rosana, um marco da ESF e da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) até então foi reorientar o sistema público como fonte usual para cuidados de saúde da maioria da população. Rosana encerrou ainda apontando que o desafio da informatização, que poderia dar o devido salto de qualidade e acesso do SUS no país, esbarra na lentidão de implementação e na sua própria existência.
Por meio de modelagens matemáticas, Davide Rasella, professor convidado do ISC/UFBA e pesquisador associado do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/IGM/Fiocruz) apresentou dados preliminares do estudo que relaciona as políticas de austeridade do governo Temer com a mudança nos quadros de saúde. Para Rasella, fica evidente o distanciamento entre a projeção de crescimento do PIB e o investimentos sociais estrangulados pela EC95. “O que impressiona é a derivação da curva. É justamente quando os recursos da economia deveriam produzir melhoras para justamente sair da crise que se agravam os efeitos da austeridade”, afirmou o professor. Nas projeções do pesquisador, a manutenção do ajuste deixa de evitar cerca a morte de 20 mil crianças até 5 anos e até 250 mil óbitos por doenças infecciosas e crônicas, para as quais já programas de assistência e prevenção. Por se tratarem de dados preliminares e em pesquisa, a apresentação não foi disponibilizada.
Luiz Augusto Facchini, professor do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (DMS/FM/UFPel) e presidente da Abrasco (2009-2012), defendeu que a Atenção Básica, e em particular a ESF, foi a principal inovação do SUS, e que seus desafios para consolidação e ampliação dependem centralmente do investimento agora garroteado pela Emenda. “Nossa grande preocupação é que os avanços observados ao longo de 30 anos de SUS e mais de 20 anos de ESF estão ameaçados por toda essa conjuntura de desmonte de direitos sociais que o nosso país experimenta”. Facchini evidenciou em sua apresentação dados que mostram que mesmo com a presença de mais de 40 mil equipes de SF no território nacional há grandes limitações no acesso de segmentos da população e na qualidade do serviço a elas prestado.
Na parte da tarde, os participantes se dividiram em 3 grupos temáticos para debate: 1) Força de trabalho e práticas profissionais na APS; 2) Modelo de atenção e impactos na organização dos serviços; 3) Financiamento e gestão da APS. Cada um dos eixos partiu de textos introdutórios referentes aos temas, elaborados pelos membros da Rede de Pesquisa em APS e previamente divulgados no site da Rede.
No primeiro grupo, foram debatidos a formação e prática profissional de médicos e enfermeiros na APS, o trabalho dos ACS, a Saúde Bucal do SUS, o NASF e o papel da equipe multiprofissional. No segundo, o acesso e o acolhimento dos usuários, as práticas integrativas e complementares, a coordenação do cuidado e a promoção da saúde no âmbito da APS. No terceiro, o Financiamento da Atenção Básica, a nova PNAB, os modelos de gestão, a investigação e inovação nos cuidados primários e a saúde dos povos, dos campos, das águas e floresta, além do Programa Mais Médicos.
A partir dos debates na mesa de abertura e dos grupos temáticos, o comitê gestor da Rede vem elaborando um relatório síntese dos encaminhamentos e proposições do seminário, com essa agenda estratégica para o SUS e a APS. O documento parte da premissa que o SUS enfrenta várias ameaças atuais, numa conjuntura marcada por retrocessos, pela perda de direitos e por ataques à democracia e por cortes significativos dos gastos públicos.
Dentre eles, destaca-se o subfinanciamento agravado pela EC95 que congelou os gastos públicos por 20 anos e a reconfiguração do repasse federal aos estados e municípios pode deslocar ainda mais recursos da atenção básica para procedimentos de média e alta complexidade. Além disso, foram apontados: as mudanças recentes na Política Nacional da Atenção Básica e a proposta de criação de planos populares na saúde suplementar.
Esse contexto traz como risco desfiguração de uma APS baseada na conjugação entre necessidades de saúde, territorialização, adscrição de clientela, vínculo e responsabilidade sanitária. Com isso, há a ameaça de aprofundar uma modalidade de serviços básicos de saúde seletivos, organizados sob a lógica de atendimento “queixa-conduta. os planos populares de saúde produziriam um desmonte do sentido público e universal do SUS e a captura de clientela e de profissionais para serviço seletivo, de baixa qualidade e com pouquíssima resolutividade.
A Rede de Pesquisas em APS avançou durante o seminário preparatório e organizou o debate em temas estratégicos: a) Efeitos positivos sobre saúde da população; b) Cobertura, acesso e utilização; c) Redução das desigualdades sócio-espaciais e regionais; d) Organização da atenção; e) Avaliação, monitoramento e melhoria da qualidade; f) Formação de profissionais para atenção básica à saúde; g) Gestão do trabalho; h) Aspectos normativos e institucionais da gestão pública em saúde; i) Financiamento.
A partir da sistematização de cada um dos eixos, está sendo elaborada uma agenda estratégica da APS no SUS que será debatida durante o Abrascão 2018. Na síntese preliminar foram apontadas como proposições do seminário:
Neste momento de ataques aos direitos sociais e as garantias constitucionais, a composição dessa agenda e o fortalecimento da defesa da APS e do SUS são fundamentais. A Rede de Pesquisa em APS seguirá elaborando essa agenda. Haverá apresentação e debate desses encaminhamentos durante oficina do Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva da ABRASCO (o “Abrascão”), no Rio de Janeiro, em julho deste ano. Acompanhe!
Fonte: https://www.abrasco.org.br/site/eventos/congresso-brasileiro-de-saude-coletiva/seminario-pre-abrascao-debateu-aps-em-tempos-de-austeridade-e-abertura-de-mercados/33696/
“’Mais um natimorto’, ouvi de um colega quando foi anunciada a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Assembleia Nacional Constituinte naquela longínqua terça-feira de 1988. Em 17 de maio, há 30 anos, na 267 ª Sessão da Assembleia, os constituintes de 1988 tomaram a decisão de criar o SUS.”
É assim Paulo Capel Narvai, cirurgião-dentista sanitasita e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, inicia seu relato e análise sobre o aniversário de 3 décadas do SUS. Narvai afirma que que hoje o sistema está entrangulado pela Emenda Constitucional 95/2016, que congelou investimentos em saúde e outros setores sociais por 20 anos e pelos parlamentares “SUScidas”, mais interessados vender planos de saúde para empresas que utilizam tais contratos para obter vantagens fiscais do que defender um sistema universal e público de saúde.
Folha de São Paulo, 18 de maio de 1988
O professor afirma ser fundamental afirmar com todas as letras: o sucesso das empresas na área da saúde corresponde à falência do projeto do SUS e ao reconhecimento tácito de que a assistência privada em saúde é sinônimo de mercadoria. Nosso dever é o de reafirmar a saúde como direito e, para isto, regulamentar fortemente e submeter a ação dessas empresas ao interesse público na saúde. O SUS, com o subfinanciamento crônico, se torna uma pálida caricatura de si mesmo. Ainda que não seja “um natimorto”, “cresceu com dificuldades e vem tendo importantes problemas de desenvolvimento.”
O artigo afirma que são os 2 milhões de trabalhadores do SUS que resistem às agressões ao sistema e dão vida a ele, ainda que com um cenário laboral desolador. Muitos, infelizmente, não se sentem “trabalhadores do SUS”, mas “funcionários da Prefeitura”, “servidores do governo do Estado”, “empregados da OSS tal”, etc.
Como solução, Narvai sugere uma Carreira Interfederativa, Única, Nacional do SUS, que desoneraria os municípios e bloquearia o avanço da privatização protagonizado por parte dos gestores municipais. Em relação à APS, o autor afirma que o SUS precisa reverter o modelo hospitalar de atenção predominante no Brasil, centrando-se atenção primária à saúde.
E finaliza nos relembrando que “são desafios gigantescos, é certo, mas não maiores nem mais ousados do que o desafio da sua criação 30 anos atrás”.
Vida longa a um sistema universal, público e de qualidade!
Boa leitura!
O espanhol Juan Gérvas, professor e investigador em cuidados de saúde primários e saúde pública e coordenador da Equipa CESCA de Madri, esteve no 36º Seminário de Inovação em Atenção Primária. O evento ocorreu em fevereiro deste ano no Rio de Janeiro. Antes da realização do seminário presencial, houve entre o dia 1º de janeiro e 24 de fevereiro debates virtuais relacionados à temática da formação básica e continuada em Atenção Primária.
Reproduzimos aqui um trecho resumo do seminário e dos debates, publicado na íntegra pelo professor no portal Acta Sanitaria no mês passado.
“Um médico é um profissional de saúde altamente qualificado que precisa continuar aprendendo por toda a vida, ser capaz de tomar decisões rápidas em condições de grande incerteza e de restrição de recursos e, geralmente, acertar. Esta definição aplica-se a todos os profissionais de saúde, de estudantes a residentes, farmácia, enfermagem, agente comunitário de professor universitário, médico rural ou urbano, etc. E de algum modo também os próprios pacientes e suas famílias na tomada de decisões sobre os cuidados para a saúde.”
“a formação refere-se ao ensino teórico / prático na prestação de cuidados que leva à melhoria dos cuidados e ao aumento da saúde dos pacientes e das comunidades. Neste sentido, vai muito além da “Medicina Baseada em Evidências”, que é muito limitada por seus interesses comerciais, sua ligação ao que é facilmente medível e sua escassa validade externa, bem como a sua tentativa de transformar profissionais em cientistas em vez de dar apoio científico à função chave de cura.”
“Remover” estudantes, residentes e profissionais de centros tradicionais de ensino, como salas de aula, centros de saúde e hospitais, e levá-los a outros lugares e ambientes para serem expostos a outras culturas e problemas diferentes e importantes. Por exemplo, a experiência de ensino na zona rural e em áreas remotas, em áreas de detenção (prisões, orfanatos, asilos, etc.), nas ruas, nas casas dos pacientes, na comunidade, etc. Outra maneira de “tirar” a formação de ambientes clássicos é introduzir tecnologias de comunicação para facilitar a aprendizagem descentralizada e compartilhada em redes. Trata-se de evitar os males endêmicos na formação: burocracia, esclerose e pessimismo.”
“Introduzir uma formação humanista e crítica, que promova valores profissionais e pessoais de sensibilização cultural e tão ampla, básicos e constantes como formação biológica e tecnológica para que os alunos, residentes e profissionais sabem mais do que apenas a medicina ( “o médico que só medicina sabe, nem medicina sabe “). Entre esses conhecimentos humanísticos estão os da antropologia, economia, ética, feminismo, filosofia e sociologia. A este respeito, é essencial para evitar o abismo cultural usual que separa subcultura médica e cultura popular, muitas vezes leva, por exemplo, o desprezo da espiritualidade e da doença viviam em formas populares.”
“Cultivar o profissionalismo para que o bem-estar e a autonomia dos pacientes e das comunidades sejam fundamentais e, ao mesmo tempo, a justiça social no sentido de equidade vertical e horizontal (…) A equidade é um valor central que justifica socialmente o trabalho dos profissionais de saúde e a existência de um sistema público de saúde com cobertura universal. Isso implica treinamento na autorregulação da profissão e no cumprimento de padrões de trabalho de qualidade, na exigência de atualização científica / técnica permanente, no uso racional dos recursos, na acessibilidade conforme a necessidade, etc. Neste profissionalismo, a formação interprofissional e a constante transferência de responsabilidade, autoridade e autonomia e trabalho em equipe é a chave”
“Incentivar o que é básico no atendimento clínico na atenção primária: o controle do tempo e o domínio da incerteza. Isso requer que o currículo oculto seja transparente e coincidente com o currículo formal, e que explique tais objetivos clínicos; também, que há treinamento que incentiva a prática baseada na ética da recusa e da ignorância. Por exemplo, supervisionando de perto o treinamento em ouvir pacientes, familiares e comunidades e na linguagem verbal e corporal que corresponde a uma Medicina Baseada na Cortesia, apropriada às circunstâncias de cada caso e local.”
“Evitar situações anti-pedagógicas que levem à rejeição da APS por estudantes, residentes e profissionais, e menor saúde dos pacientes e comunidades. Por exemplo, o desempenho excessivo de plantões hospitalares de emergência ou serviço rural obrigatório no pós-graduação. (Evitar) também a burocratização das atividades, porque o modelo a ser promovido é o oposto, de grandes desafios intelectuais para dar respostas efetivas às centenas de problemas distintos, típicos da atenção básica.”
“As sociedades científicas de cuidados primários (médicos de família, enfermeiros, farmacêuticos, assistentes sociais e outros) têm de aceitar e encorajar a sua participação na formação na graduação e pós-graduação e estar politicamente envolvidas para alcançar uma sociedade e um sistema de saúde mais equitativo, justo e eficiente.”
O relatório apresenta como conclusão que o treinamento em atenção primária deve apoiar os líderes clínicos que aceitem desafios intelectuais e práticos complexos, fornecendo respostas que sirvam como exemplos, porque eles melhoram a saúde dos pacientes e das comunidades.
Boa leitura!
Fórum Nacional de Atenção Primária à Saúde debate 40 anos de Alma-Ata e 30 anos do SUS com inscrições gratuitas
A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) e Associação Brasiliense de Medicina de Família e Comunidade (ABMFC) apresentam o Fórum Nacional de Atenção Primária à Saúde, que será realizado entre os dias 14 e 16 de junho, na cidade de Brasília. O evento que terá como tema central os 40 anos de Alma-Ata e 30 anos do SUS, reunirá diversos profissionais e especialistas em saúde pública para debater e refletir sobre a importância da Atenção Primária à Saúde para o fortalecimento do SUS.
As inscrições para o Fórum são gratuitas, com vagas limitadas para 400 participantes na sede da Associação Médica de Brasília, localizada no Setor de Clubes Esportivos Sul, e devem ser feitas pelo e-mail abaixo com envio de todas as informações necessárias. O evento conta com o apoio da OPAS, Ministério da Saúde, Secretaria de Saúde do Distrito Federal e Associação Médica de Brasília.
Para o presidente da SBMFC, Thiago Trindade, a ideia deste fórum vem num momento de celebração dos 30 anos do SUS, reconhecendo suas conquistas, mas também debatendo seus desafios para tornar-se de fato um sistema universal, com uma atenção primária robusta que seja porta de entrada e resolutiva a todos brasileiros, e alcance um objetivo primário de todos sistema de saúde, gerar equidade em saúde. “Por todo quadro atual de crise econômica e política no país, com a diminuição de recursos reais para a saúde, quando deveria ser o contrário, com aumento do financiamento público, torna-se imperativo a defesa do SUS, com um debate profícuo na busca de soluções para seguir qualificando-o e resolvendo seus nós críticos”, argumenta.
A programação será divulgada em breve e terá entre os temas: Desafios da APS para o fortalecimento do SUS; Perspectivas da ESF no Brasil e O papel da MFC para o Sistema de saúde.
“Além de resgatar a história da Atenção Primária no Brasil, discutindo os atuais desafios impostos ao SUS, vamos debater a importância da Medicina de Família e Comunidade para o fortalecimento de um sistema público de saúde. Como produto final desse evento, considerando o ano eleitoral, redigiremos a Carta de Brasília, apontando as razões e caminhos para se fortalecer o SUS, com o intuito de ser referência para os futuros governantes”, explica Guilherme Nabuco, presidente da ABMFC.
Público-alvo do Fórum: Gestores que atuam no SUS, Docentes da área da saúde, Médicos de Família e Comunidade, Médicos de outras especialidades que atuam na APS, todos os profissionais de saúde que atuam na Estratégia Saúde da Família e/ou NASF (Enfermeiros, Fisioterapeutas, Dentistas, Nutricionistas, Agentes comunitários de saúde, Psicólogos, entre outros).
[ATENÇÃO] Para efetivar sua inscrição todos os dados abaixo devem ser enviados em um único e-mail. A sua inscrição estará garantida a partir da confirmação pela SBMFC para o e-mail inscrito: forumaps@sbmfc.org.br com as seguintes informações:
Nome:
CPF:
E-mail:
Telefone
Cidade / UF:
Profissão:
Local de trabalho:
É Sócio SBMFC?:
Espera-se que os profissionais de saúde vinculados aos cuidados primários forneçam respostas centradas na pessoa, abrangentes e integradas. Esses profissionais também tem a responsabilidade de fortalecer a resiliência das comunidades a que servem. Sua liderança e ação podem mitigar sofrimentos e produzir muitos benefícios para pacientes, sistemas de saúde e a saúde planetária em geral. É o caso do papel da APS na atuação direta sobre as alterações ambientais, como mudanças climáticas, poluição, biodiversidade, perda de água doce, mudança no uso da terra e exposições a produtos tóxicos.
Tais desafios e oportunidades no papel dos profissionais da APS na saúde planetária é o tema do artigo recém-publicado na Lancet Planetary Health pelo pesquisador de Toronto (Canadá), Edward Xie e dois brasileiros: Enrique Barros, da Wonca (Organização Mundial dos Médicos de Família) e Airton Stein, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
O texto destaca o papel dos prestadores de cuidados primários em políticas que afetam os determinantes sociais em saúde e impulsionam mudanças em setores como o transporte, a energia, a agricultura e a economia. Através de seu capital social, podem apoiar políticas públicas relacionadas a esses determinantes. Segundo os autores, há evidências que profissionais de saúde podem ganhar mais confiança do público em geral do que especialistas em saúde pública ou as agências governamentais.
Para além de tratar doenças, os pesquisadores afirmam que a APS tem papel fundamental na promoção e prevenção, na pesquisa e na educação, na “advocacia” em saúde e no fortalecimento do sistema de saúde. Por exemplo: recomendando atividade física, mudando o meio de transporte dos pacientes para formas não motorizadas, introduzindo dietas mais saudáveis e realizando planejamento familiar. Diminuem assim os efeitos da mudança climática sobre a saúde, por exemplo, reduzindo as emissões de alterações climáticas poluentes através da melhoria da eficiência energética ou de fontes alternativas de energia.
Os profissionais da APS podem ter um papel importante na educação, na pesquisa e na defesa de direitos, participando do marketing social de informações de saúde relacionadas à mudança ambiental e advogando por ações de transformação junto aos órgãos governamentais. Tal papel pode se dar tanto profissionalmente – como a Wonca – como localmente – atuando, por exemplo, na comunidade em ações de redução de resíduos e de dejetos tóxicos.
Essa relação entre as mudanças em comportamentos de saúde e estratégias de transformação ambiental é um ponto-chave na atuação dos profissionais da APS. Na visão dos autores, esse encontro entre a legitimidade como especialistas e o relacionamento com as pessoas que tratam pode possibilitar aos prestadores de cuidado da APS seu reconhecimento como base para fortalecer os sistemas de saúde e, com isso, proteger a saúde do planeta.
Boa leitura!
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