Faça parte da rede aqui!
Fique por dentro das últimas notícias, eventos, debates e publicações científicas mais relevantes.

Arquivo Diário 3 de julho de 2017

Estudo longitudinal analisa a multimorbidade da população de adultos no Brasil

Publicado no mês de junho no BMJ Open por 10 pesquisadores do Brasil, Índia e Colômbia, o artigo “Contextual and individual inequalities of multimorbidity in Brazilian adults: a cross-sectional national-based study” analisa um dos principais desafios na clínica da APS e pouco documentado no cenário de pesquisa nacional – a multimorbidade.

Para avaliar a magnitude dessa dimensão e sua associação com fatores individuais e relacionados ao contexto nos estados e regiões do país, foi realizado um estudo longitudinal, em 2013, com a população de adultos do país. Foram usados dados da Pesquisa Nacional da Saúde, que interrogou moradores de domicílios com mais de 18 anos, sobre o diagnóstico prévio de 21 condições de saúde e a utilização do PHQ-9*, para diagnóstico de depressão.

Conforme a literatura internacional, foi incluída a população com multimorbidade com mais de 2 e mais de 3 diagnósticos simultâneos, e analisada segundo variáveis como sexo, cor, estado civil, escolaridade, riqueza e condições de moradia, dentre outras. Após a seleção e ajuste de variáveis e padrões de associação, foram utilizados modelos de regressão linear e logística para avaliar a associação entre as doenças e as demais variáveis.

Dos mais de 60 mil adultos analisados, o estudo constatou uma prevalência de 22,2% para pessoas com mais de 2 morbidades e 10,2% com mais de 3 morbidades. Nesse grupo, foi verificado um risco maior de multimorbidade nas mulheres, idosos, na população vivendo com cônjuge e nos menos escolarizados. Indivíduos que vivem na área urbana e com plano de saúde, também foram identificados com mais doenças associadas.

Os pesquisadores afirmam que é possível extrapolar os dados produzidos para a população brasileira. Inferem, assim, que há 42,7 milhões de brasileiros adultos com mais de 2 doenças e 19,5 milhões com mais de três doenças. O resultado é similar aos produzidos em países classificados como de renda média ou baixa como a China e a Índia e em países como Canadá e Espanha.

Em suma, dentre os inúmeros achados do estudo, podemos afirmar que temos uma elevada prevalência de multimorbidade na população brasileira. Conforme os autores do artigo afirmam, será um desafio pensar o cuidado em saúde desses milhões de brasileiros com múltiplas doenças simultaneamente e, em especial, com importantes iniquidades tanto na dimensão territorial quanto individual. É importante lembrar que esse cuidado deverá se dar especialmente nos serviços de APS no país.

*Patient Health Questionnaire é um questionário com 9 perguntas, criado para profissionais de saúde avaliarem, de forma rápida, sinais e sintomas de depressão (a partir de 5 transtornos mentais comuns em atenção primária à saúde: depressão, ansiedade, abuso de álcool, transtornos somatoformes e transtornos da alimentação).

Boa leitura!