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Arquivo Diário 5 de outubro de 2012

Território-Escola Manguinhos: experiência bem-sucedida

O Centro de Estudos da ENSP realizado em 3 de outubro foi diferente. Integrado ao seminário Inovação em Atenção Primária à Saúde (APS) – Um Balanço do Programa Território-Escola Manguinhos (Teias), o evento foi aberto pela pesquisadora da ENSP Maria Alice Pessanha, que falou sobre a experiência do programa fundamentado nas políticas do Ministério da Saúde e incorporador do conceito tradicional de rede de serviços objetivando a produção de conhecimento. A programação também contou com três experiências desenvolvidas pelo Teias. O professor da Universidade de São Paulo Marco Akerman foi o debatedor do seminário. Durante o evento, ocorreu o lançamento do livro Território Integrado de Atenção à Saúde: somos todos aprendizes, de Maria Alice Pessanha e Fátima Pivetta.

Segundo Maria Alice Pessanha, o Teias buscou referência teórica nos estudos do professor Boaventura de Sousa Santos. Segundo ele, várias formas de conhecimento devem ser levadas em conta no estudo de um território, pois é enorme sua capacidade de construção de conhecimento. O Programa é uma iniciativa de cooperação técnica entre a ENSP e o município do Rio de Janeiro, que compreende a cogestão da saúde no território de Manguinhos. Desde sua criação, o Programa assume a responsabilidade de gestão direta da atenção primária à saúde (APS), conforme modelo da estratégia de saúde da família, a toda a população residente. O Teias, explicou ela, é um espaço de inovação, surge do conceito de bairro-escola aprendiz, desenvolvido em 1997 e definido como um espaço educativo estruturado em redes de relações intersetoriais.

Maria Alice lembrou a influência do autor Pierre Levy, segundo o qual o processo educativo deve ocorrer no espaço da vida cotidiana. “O ato de aprender é o ato de acontecer, intervir na escola, família, instituições, empresas. O Teias é uma grande sala de aula”, completou. A pesquisadora destacou um conjunto de ações realizadas no âmbito do programa, como os cursos de apoio matricial, educação permanente, gestão clínica ampliada e de abordagem sistêmica, este em parceria com a Unicamp, além do mestrado profissional que já está na segunda turma.

A primeira experiência apresentada foi Fomento à pesquisa e desenvolvimento tecnológico em Manguinhos, pela pesquisadora do Programa de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Saúde Pública (PDTSP) Isabela Santos. Para ela, foi um grande aprendizado trabalhar na construção da rede Teias. Em 2010, lembrou a pesquisadora, lançaram uma chamada aberta aos pesquisadores e receberam 31 cartas de interesse. Algumas características destacadas são a pactuação das decisões em rede e o trabalho com indução de participantes. De acordo com Isabela, hoje, os temas dos grupos de trabalho são: organização da atenção à saúde e linhas de cuidado; informações e geoprocessamento; pesquisa de campo; e participação social.

Os resultados esperados pelo PDTSP são produtos como mapas, pesquisa de campo, organização da assistência, diagnóstico ambiental do território, materiais e ferramentas, sistematização do processo de articulação dos atores em diferentes fóruns para fortalecimento, sistema de processamento de articulação do trabalho em rede (erros, acertos e desafios, replicabilidade) e a publicação do livro Fiocruz em Manguinhos: contribuições para a gestão dos serviços e melhorias das condições de vida dos moradores. Um dos desafios do PDTSP é criar um observatório como sala de análise de cenários e situações de saúde.

Pesquisa na Atenção Primária à Saúde: a satisfação do usuário e a construção coletiva de protocolos assistenciais foi a segunda experiência, relatada pelo pesquisador da UFRJ Carlos Eduardo Aguilera Campos. O objetivo da pesquisa realizada, explicou ele, foi testar metodologias de avaliação da estratégia saúde da família (ESF) pelos usuários e profissionais da APS. A metodologia aplicada no estudo foi o instrumento Europep adaptado, questionário internacional padronizado de avaliações de pacientes sobre cuidados de clínica geral. A pesquisa também utiliza novas ferramentas como tablet e questionários em Google Docs. “A grande queixa dos usuários da ESF é o acesso, apesar de o Brasil estar expandindo muito a atenção primária”, disse.

Campos também comentou sobre o projeto de construção de guias clínicos, ou seja, recomendações para auxiliar professores e pacientes, que utilizam a metodologia Soap (S de subjetivo sob o ponto de vista do doente, suas queixas e sentimentos; O de objetivo de identificar sinais; A de avaliação final; e P de plano de medidas terapêuticas tomadas). Espera-se que, em 2024, existam 18 ou mais guias clínicos propostos: tuberculose, saúde da criança, diabetes, hanseníase, obesidade, transtornos mentais, entre outros.

A terceira experiência abordou a Formação de profissionais em saúde pública. A pesquisadora da ENSP Sandra Venâncio descreveu os processos de seleção do curso sobre SUS oferecido aos estatutários e não estatutários do município do Rio de Janeiro. “Estamos no processo final da quarta turma. Dos 105 alunos selecionados, 90 concluíram o curso. Tomar o município do Rio como locus das políticas de saúde foi muito prazeroso para os professores da ENSP, e a troca de experiências foi enorme porque a ideia de que os funcionários têm conhecimento sobre a rede é enganoso”, informou. Sandra disse que há proposta de incluir a supervisão dialógica na próxima turma. Por meio dela, ao fim de cada módulo, a ENSP irá aos serviços de saúde para discutir os temas trabalhados com os grupos de alunos divididos por área de planejamento. “A lógica é trocar mais com o serviço, ajudar os alunos nos processos decisórios”, finalizou.

O Coral da Fiocruz apresentou-se no fim do debate. Em seguida, houve o lançamento do livro Território Integrado de Atenção à Saúde: somos todos aprendizes, de Maria Alice Pessanha e Fátima Pivetta.

 Fonte site ENPS www.ensp.fiocruz.br