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Médico comenta importância do cuidado interdisciplinar

“Quanto mais conseguirmos superar esta relação de interação baseada em relações desiguais e pouco dialógicas e caminhar no sentido de contatos mais intersubjetivos, melhor será para o paciente e também para o profissional que o atende”, ressaltou o médico sanitarista e professor da USP José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres, na conferência de abertura do ano letivo do Mestrado Profissional em Atenção Primária com Ênfase na Estratégia de Saúde da Família. De acordo com ele, o cuidado não deve ser abordado como operação ou monitoramento do tratamento, tampouco como atenção a aspectos periféricos do bem-estar do paciente e, sim, como categoria reconstrutiva. Durante sua palestra intitulada O cuidado nas práticas de saúde, ele contou casos vividos durante seus muitos anos de experiência como médico da atenção primária e ressaltou que a ideia de cuidado não é algo versus a técnica, mas é algo com a técnica, e que não se restringe a técnica. Segundo Ricardo, o cuidado, portanto, deve ser pensado como a relação entre dois aspectos, dois polos indissociáveis: êxito técnico e sucesso prático. “O eixo técnico abrange a dimensão do nosso conhecimento científico e técnico, que permite construir hipóteses, propostas de intervenção, e agir na transformação do objeto. Já a ideia de sucesso prático vem na medida em que temos o conhecimento de que essas coisas não estão desvinculadas de um modo de ser, das experiências subjetivas dos profissionais. E o que une esses dois aspectos é o que temos chamado de Projeto de Felicidade de cada indivíduo. Essa noção de Projeto de Felicidade criada por Ricardo abrange ciências biomédicas, saberes tradicionais e sabedoria prática articulados a valores éticos e morais e a condições materiais concretas, definindo assim o que faz a pessoa feliz. “Nesse contexto, a felicidade não é sinônimo de alegria. Ela significa se sentir realizado ou sentir que se está na direção correta para alcançar a realização desejada. Pois em nosso constante desacomodar, procuramos a nossa felicidade. A definição da OMS sobre completo estado de bem-estar físico, mental e social só pode ser alcançada pelos mortos, já que o tempo todo estamos nos movendo e nunca nos sentimos completos”, detalhou Ricardo, completando que o Projeto de Felicidade pode ser visto como um horizonte normativo que orienta a caminhada da vida. Sobre as práticas de escuta e acolhimento, ele destaca que é preciso ouvir mais. Porém, além disso, é preciso ouvir com qualidade, incentivar a narrativa do paciente, saindo do roteiro da anamnese padrão. “Permitindo a narrativa, conseguimos alcançar o sucesso prático e enxergar o projeto de felicidade da pessoa, pois é ali que aparecerá o contexto, o tipo de situação vivida e como o paciente valoriza aquilo que ele traz como questão de saúde. Quando interrompemos essa contação de história, perdemos isso. Conheço a realidade da atenção à saúde, as situações adversas enfrentadas no cotidiano e sei que muitas vezes isso impede uma escuta qualificada, mas é possível estimular narrativas, pois assim traremos dados importantes para o cuidado”, considerou Ricardo, comentando dados de uma pesquisa feita nos Estados Unidos, que revela que um paciente não consegue falar mais que 16 segundos sem ser interrompido pelo médico. “Isso é um problema grave, um quadro que precisamos reverter”, disse ele. Como pontos a serem perseguidos, o médico apontou mais continência e continuidade nos serviços, mais participação dos usuários, mais compromisso dos profissionais, mais resolutividade e mais envolvimento do usuário e das famílias nas ações de cuidado. “O atendimento minimalista mina o cuidado. É preciso responsabilidade e compromisso por parte dos profissionais. Além disso, é válido ressaltar que o trabalho em saúde são encontros entre sujeitos. Portanto, o outro é fundamental para mim”. Finalizando sua palestra, Ricardo apontou também a importância de uma abordagem intersetorial ativa. “É preciso tentar implementar isso em todos os espaços que temos. Não devemos esperar as esferas de governo se articularem se eu mesmo posso fazer essa intersetorialidade em nível local, indicando escolas, atividades e outras iniciativas aos meus pacientes. É claro que é importante que esas iniciativas se tornem políticas institucionais, mas eu posso fazê-las antes disso, completou ele.

 

O curso da ENSP é desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC) do Rio de Janeiro e tem como finalidade fomentar a produção de novos conhecimentos e inovações na atenção primária em saúde na cidade, integrando parcerias entre instituições acadêmicas e a rede municipal de saúde. O mestrado é coordenado pela pesquisadora da ENSP Elyne Montenegro Engstrom.

 

Fonte site ENSP www.ensp.fiocruz.br

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